terça-feira, 12 de agosto de 2008

O Lápis

Olho o lápis em cima da mesa e tento imaginar o peso e sua dimensão, e esta imagem fica em mim, no mesmo instante escuto um barulho, deve ser uma batida de carro, abro a janela e vejo um corpo no chão, foi um atropelamento, e volto a lembrar do lápis que ainda continua lá no seu mesmo lugar parado, sem vida e emoção, enquanto isso meu coração bate forte pelo susto tomado, mas me recupero e saio. Ao sair, passei perto do corpo, havia um parente chorando próximo a vítima, uma quantidade de energia gigantesca dissipava das pessoas enquanto eles se comoviam ao olhar aquela cena, aquele corpo ao chão sem vida.

Peguei o ônibus em direção ao centro da cidade, o trânsito estava engarrafado, caos total nas ruas, calor de 40 graus e algumas pessoas dentro do ônibus estavam com mal cheiro, olhei no rosto de alguns e percebi que muitos estavam cansados, exaustos e se perguntando para si próprio: será que isso é viver?. E aquele questionamento que sempre nos perguntamos, o porque de estar aqui neste mundo.
Assim o ônibus chega no meu destino, logo desci e vi uma senhora que devia ter uns 80 anos, caminhava devagar, sem força, devia estar com muitas dores, mas ela me parecia forte e resistia. No outro lado da rua, um garoto cometia um assalto e em frente a isto um ambulante vendendo suas mercadorias. O dia continuava e a noite chegava devagar, os rostos mudavam na rua, algumas mulheres vendendo seus corpos e também alguns travestis, um outro tipo de comércio apareceu.Após ter terminado minhas tarefas retorno para casa, chegando, observo que o corpo ainda está ali. O movimento de pessoas curiosas continuava os mesmo, muitos se comovendo com aquilo e liberando uma carga de energia com suas emoções. Não dou muita bola e entro em casa, novamente observo o lápis e ele continua no mesmo lugar, imóvel sem sentimento e/ou emoção.
Ao observar isso, chego numa conclusão e me questiono: Quem realmente está vivo? O lápis ou eu? O simples fato de o lápis ficar parado no mesmo lugar o dia todo e eu ter vivido um dia intenso, faz de mim o observador, ou o lápis me observa?. Estou sentando sobre a cadeira, a cadeira está sobre o chão que pertence a este planeta. Na medida que vou me distanciando do planeta em meu pensamento, concluo para aqueles que olham do outro lado do universo. Eu em relação ao planeta estou parado, minhas dimensões no espaço são nulas assim como a do lápis. Dai me pego a pensar, eu vivo uma vida toda, ando pelo mundo, faço revoluções e o observador que está no outro lado do universo, só enxerga um ponto que é o planeta, e neste mesmo planeta existe um lápis e eu que nossas dimensões são nulas perto da imensidão da escuridão. O observador do outro lado conclui que se eu e o lápis estamos parados e imóveis é porque não temos vida.
Depois desta conclusão, minha vida não foi mais a mesma, comecei a agir diferente, guardava minhas emoções e toda a minha energia para as coisas que me faziam feliz e para as outras agia como o lápis. Pois na imensidão do universo a única coisa que viaja em ondas são as energias eletromagnéticas (luz, ondas de rádio e sentimentos humanos...) sendo que os sentimentos que geramos aqui viajam no espaço, mas os que têm mais potência são aqueles que são gerados a partir de um evento de dor, decepção e tragédia. Nos últimos tempos se olharmos nos rostos das pessoas, nas ações do ser humano, a única coisa que ele transmite para o cosmo é dor e sofrimento, enquanto nas outras ações boas agimos como o lápis. Aceitamos a vida do jeito que é, e damos as costas para as coisas que nos fazem felizes. Passamos a transmitir dor, sofrimento, arrependimento e obsessão. E o observador que está no outro lado do universo não consegue entender o porque que aquele ponto transmite tanta energia ruim. O mesmo não sabe dizer se é o lápis ou nós que somos os seres viventes neste universo de múltiplas verdades.

Marcelo Roldão Matos
15/08/2008 ~






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